O nosso sistema de saúde!

Na madrugada de anteotem o meu pai sentiu-se mal, muito mal e foi parar (após muita teimosia) ás urgências do Hospital distrital...

Normal, para muitos de nós, infelizmente...

Chegou e esteve sensivelmente uma hora sentado numa cadeira no corredor após a triagem. Para a cor da pulseira atribuida, estava dentro do tempo de espera.

O que eu não compreendo é porquê tanto tempo se nem estavam lá tantos doentes...

Depois disso, o senhor doutor decidiu chamar-me e dizer que ele ficava la a fazer exames... Acho bem, disse eu....Mandou-me estar lá pelas 9h30 da manhã, para ou falar com ele ou leva-lo para casa (ao meu pai). Assim o fiz..Fui para a cama perto das cinco e á hora marcada estava lá.

A senhora das informações (SIRP) falou comigo sensivelmente uma hora depois dizendo que ele aguardava resultado de análises...Ora, análises que ele fez ás 3 da manhã..Sendo dez e pouco da manhã, achei estranho. Falei com ele e percebi que ficaria ali mais umas horas. Não muitas, pensei eu.

Eram quase 15h quando me voltaram a dar informações e quando reclamei da demora responderam-me "minha senhora, tem de ter calma, somos humanos e não podemos fazer mais". Teria sido uma afirmação que apesar de me "chatear" (eles são humanos e nós também, ora essa!!!) não teria sido tão grave se fosse feita num tom "agradável" e por quem de direito. Não por um segurança que de imparcial e simpático nada tem. Eu não podia entrar, outros de etnia tinham livre trânsito. Não está correcto, sendo quem for, as regras tem de ser iguais para todos. Lá fui ver o meu pai que me disse que la lhe tinham dado uma sopa mas que achava que ia ter alta; Falei com uma enfermeira simpática que me disse que estavam a aguardar o médico mas que o resultado das análises estava lá á horas, teria sido mal comunicado á senhora das informações...

Continuando, perto das 17 disseram-me que teria alta, que o doutor falaria comigo daí a nada...Pura ilusão..Perto das 19 o meu pai teve alta, mas ninguém falou comigo...Não havia ninguém disponivel...

Ora, dentro de tudo o que aconteceu nestas horas todas (uma noite e um dia inteiro) existiram muitos erros. O nosso sistema nacional de saude é assim uma coisa que me assusta bastante.

Nestas horas todas de espera, mantive a paciência, não falei mal a ninguém e esperei.Apenas. O

que me importava era que o tratassem. Só isso e vê-lo de vez em quando. De que me serviria chatear-me? Ele era o importante. Dei o meu ponto de vista ás senhoras das informações que o perceberam e pediram desculpa. Não resolve mas fica bem.

Médicos, disseram elas, há poucos e doentes cada vez mais...Ora...Porque será?

Vi chegarem dezenas de ambulâncias durante aquelas horas. Maioria pessoas idosas. Algumas sozinhas. As familias chegaram depois, chorosas, assustadas. A algumas não davam muitas esperanças.

Vi pessoas na sala de espera a desesperar. Sem saber usar as máquinas da comida e da água e sem ninguém que as ajudasse. Algumas vezes expliquei ou ajudei a fazer as coisas. Mas eu não estou sempre lá, nem as outras pessoas que ajudaram. Pensei muitas vezes se não deveria existir ali um acompanhamento ás pessoas que passam ali horas a fio... Não lhes devia ser dado um "suporte"? Com tanta gente no desemprego, com tanto potencial, não deveria ser criada uma nova profissão?

Vi chegar pessoas a esvair-se em sangue e a terem de aguardar no corredor.

Vi chegar uma criança que havia perdido muito sangue, com cortes pelo corpo e que foi mandado aguardar na sala. A mãe dessa criança foi das pessoas mais corajosas desse dia, pegou no menino e entrou, reclamando alto e bom som quanto á atitude do segurança e do sistema.. Enfrentou quem teve de enfrentar mas o menino foi atendido de imediato. Nem fazia sentido se fosse de outra forma.

Vi sorrisos. Vi lágrimas. Vi dor.

Vi o que tantas outras vezes (infelizmente) ja tinha visto. Mas desta vez tive de escrever.

Quase perdi o meu pai neste episódio e o meu suporte veio de fora, não do hospital... Veio da familia incansavel nos telefonemas e apoio e dos amigos, em especial da Cátia e da Su...Nunca saberei como lhes agradecer, estiveram lá comigo de noite, de dia, levaram-me o almoço e estiveram sempre a apoiar-me, via telemóvel até...

Fico a pensar nas pessoas com quem falei, com quem partilhei estas horas..

Naquela velhinha que me disse "ai menina, passo aqui tantas horas...Se você aqui estivesse sempre o tempo passava mais depressa e não custava tanto" apenas e só porque ouvi as suas lamentações...Não custa nada e alivia..

Senhores responsáveis: abram os olhos, as pessoas são mais que números..São mais que corpos sentados na sala de espera! Deêm-lhes suporte, apoiem, ouçam pelo menos! E sorriam, e ensinem os vossos funcionários a sorrir porque para tristeza ja basta terem de estar doentes ou ter os deles doentes!