Revi hoje o meu percurso, de Portugal a Timor e de Timor a Portugal! Em frases, que fui escrevendo ao longo do tempo, partilho convosco o que senti e vivi neste caminho…
(Será um post um pouco mais longo...desculpem mas não consegui ser mais suscinta...)
No dia 02-12-2008 eu escrevia assim:
“Mas agora é real, agora é um projecto concreto. Deixou de ser apenas um sonho. Já deves / deve ter percebido que estou a falar deste ano em concreto, do fim do curso (espero eu!!!) e de partir em Missão por um ano.”
No dia 18-04-2009, assim:
“É um ano de emoções. È um ano em que tenho vivido tudo muito intensamente. È um ano em que o coração tem falado mais alto.”
No dia 11-08-2009, assim:
“Estreitei laços, estreitei caminho. Amei cada pessoa que se cruzou comigo. Amei até as que me fizeram sofrer.” ; “Partirei para Timor como Leiga Missionária Hospitaleira (mais propriamente para Laclubar) em Outubro.”
No dia 31-10-2009, assim:
“Devo começar por vos dizer que estou feliz, muito feliz, haksolok tebetebes! Sinto que o caminho percorrido, sofrido, longo, valeu a pena. As lágrimas, os sorrisos, os desânimos, as palavras de coragem, tudo valeu a pena. Este país entra-nos pelos olhos mas toca-nos o coração.”
No dia 06-12-2009, assim:
“Que neste Natal cada um de vós (e de nós) saiba dizer aos que ama, que os ama. Sem vergonhas, sem receios nem rodeios. Olhar nos olhos do outro e dizer-lhe “Eu amo-te e tu és-me essencial”. Que saibamos ser exemplo do amor de Deus.. Que saibamos fazer Natal em nós. Que saibamos fazer Natal nos outros. Um Santo e Feliz Natal a tod@s!”
No dia 26-02-2010, assim:
“Nestes dois meses (Janeiro e Fevereiro) vivi já muita coisa, senti outras tantas. Já estive doente, já ri á gargalhada sem conseguir parar, já me cansei sem saber porquê, já senti que não era capaz, já me senti a desesperar, já senti as forças a falharem e o amor de Deus a restabelecê-las, já pensei se seria aqui o meu lugar e senti o coração a responder que não haveria no mundo outro lugar onde eu quisesse estar, já me irritei e deixei passar, já me irritei e não deixei passar, já chorei de frustração, já…. Já tanta coisa…”
No dia 09-04-2010, assim:
“ Acreditem que não exagero quando vos digo que a nível pessoal, esta comunidade, estas pessoas revitalizaram a minha entrega a este país, a esta missão.”; “Escrevo-vos também de coração um pouco triste. Desse lado do mundo, alguém que amo, que me é essencial, que dá razão ao meu existir, luta pela vida, numa cama de hospital. Uma família inteira que ama, que está, que acompanha, que sofre. E deste lado do mundo o sofrimento é em nada menor, acreditem. O coração é trespassado tal lança que entra sem avisar. Mas Deus quis que fosse assim, que fosse durante este ano, que as coisas se sucedessem assim. Apenas posso rezar, o que em alguns dias não me parece suficiente e noutros me parece a melhor forma de estar presente e ligada, apoiando e estando, mesmo longe. Não posso dizer-vos que viva serena estes dias. Não posso, porque amo.”
No dia 10-06-2010, assim:
“Com a morte da Bá, o meu coração sentiu-se bastante, a dor que me invadiu (e que demorará a ir desaparecendo) foi como ter o coração trespassado por uma lança com uma ponta bem aguçada, que passava bem devagarinho. Fui vivendo o seu sofrimento á distância e quando chegou a hora de partir, fui vivendo a sua partida com o coração a desagregar-se aos poucos. A importância que ela tinha e terá sempre na minha vida é demasiado grande. Era minha irmã. Era minha confidente. Pensei algumas vezes regressar a Portugal”
No dia 14-06-2010, assim:
“Antes de dizer a alguém, quis falar com a minha família, em especial com a minha mãe e o meu pai, pois é a eles que devo tudo o que sou e que amo mais que tudo na vida. Sem rodeios, decidi ficar em Timor Leste mais um ano, renovar este “projecto” de missão por mais um ano” ; “Sinto que começo a perceber a responsabilidade e dedicação necessária para se ser missionária, para se ser Leiga Missionária Hospitaleira. É muito mais que uma sigla, é muito mais que um lugar-comum da língua portuguesa. É uma maneira de ser, de estar e de viver. É algo que só se consegue de coração aberto, vindo e estando, abrindo-nos ao que Deus no pede, vivendo com o que nos dá e deixando que seja Ele que decida para onde vamos.”
No dia 29-01-2011, assim:
“Escrevo-vos enquanto a Flor faz a mala do outro lado; tenta arrumar na mala 3 anos de missão, 3anos de vida, 3 anos de entrega ao povo timorense.” …“existe algo que a acompanhará, dentro ou fora da mala: o amor e dedicação que este povo lhe dedica, arrisco mesmo dizer a devoção que lhe dedicam. E digo-o com o coração agradecida, de ter tido a oportunidade de partilhar missão e acima de tudo vida com um ser humano tão extraordinário e entregue como ela é. Aprendi a seu lado o que é missão, o que significa ser sal da terra e luz do mundo…”
No dia 04-04-2011, assim:
“Meu Deus, como é fácil na fragilidade colocar tudo em causa! Em cada dia quero dar graças a Deus por me levar ao deserto e me falar ao coração!”
No dia 26-05-2011, assim:
“Sinto-me feliz, de em cada dia me sentir amada e protegida por esse amor, dos amigos, da família, e de tantos, tantos que se vão cruzando comigo. Sou grata a Deus por isso!”
No dia 13-08-2011, assim:
“Estou a pouco mais de um mês de regressar a Portugal. O coração está inquieto e agitado entre o que deixo aqui e o que tenho aí…” ; “Chego ao fim de dois anos de missão com a sensação de dever cumprido, de comunhão, de vida vivida… E se até aqui o coração ainda não tinha balançado com a dor da despedida, agora ele começa a bater descompassado!”
E hoje, escrevi assim:
“Timor mudou a minha vida totalmente, mudou o meu coração, mudou tudo em mim! E acima de tudo, Timor ensinou-me a ser feliz, fazendo o que podemos, com o que temos, onde estivermos! E regresso grata, muito grata, a este Deus de Amor que nos leva sempre mais longe, que nos ensina que ser hospitaleiro é mesmo isto, ser COM o outro! “
A todos vós que me acompanhaste no antes, no durante e agora no depois....OBRIGADU WA'IN :)
Este ano, tive o privilégio de fazer parte da equipa animadora do Natal Hospitaleiro na C. S. I e, partilho convosco, que venho bem mais rica!
