sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Olá de Timor Leste!


Olá olá!
Sempre que passo na internet é a correr e quando tenho mais tempo, é para procurar materiais para trabalhar… O blog acaba por ser só para publicar uma ou outra coisita a correr… Não é que não me lembre… Apenas vai surgindo isto e aquilo e acaba por passar da ideia…
Depois também existe outro motivo… Não quero publicar aqui o mesmo que vai nos e-mails gerais, aos quais grande parte de vós tem acesso… E escrever muitas coisas diferentes exige disponibilidade e vontade… Que por vezes me falta….

Hoje, decidi publicar uma montagem de alguns momentos felizes, momentos de vida vivida aqui em Timor e escrever-vos umas poucas palavrinhas, só para partilhar um pouco do que vou experimentando por aqui e que me faz em cada dia renovar a certeza de que não haveria outro lugar no mundo onde eu preferisse estar…
Não partilho sobre trabalho, tarefas e mais tarefas… Não partilho sobre cansaço… Isso, faz parte de relatórios e afins. Partilho sobre a vida, sobre sentimentos…
Tenho crescido muito por aqui. Tenho tido grandes lições de vida… Principalmente com as crianças…
As crianças de Laclubar são iguais a quaisquer crianças no mundo mas com uma particularidade: não têm acesso a grande parte do que as outras crianças pelo mundo fora têm… Recordam aquelas “latinhas”, com um utensílio para fazer bolas de sabão? Aquelas que usávamos quando crianças, e que hoje nas feiras já está industrializado e já existe como pistola, como máquina, etc… Pois… aqui as crianças fazem-no com folhas, com ervas… E resulta! Funciona ainda melhor! Recordam todas aquelas regras que existem nos infantários e nas escolas portuguesas, quanto aos espaços, ás características dos espaços, ao não ter nada que possa magoar ou ferir as crianças? Pois é, aqui as escolas são muitas vezes espaços sem janela (o que quando chove faz com que se tornem em “baldes”), onde existem umas cadeiritas e umas mesitas… Escolas onde não estou certa que se possa dizer que tenham aulas, pois grande parte do tempo, os professores estão á porta e as crianças a brincar sozinhas dentro da sala… Recordam que sempre que chove, aí na nossa realidade, as crianças ou não saem de casa ou vestem não sei quantas peças de roupa, impermeáveis e assim? Pois, aqui elas brincam na chuva, elas saltam, pulam, vivem á chuva, e soltam gargalhadas tão sonoras que só reflectem o seu contentamento… Recordam que aí, uma criança não pode brincar com tesouras, com objectos bicudos, com facas ou materiais cortantes? Pois aqui, elas trazem consigo uma catana… E não falo de crianças muito crescidas, falo dos mais pequeninos…
Podia passar o resto do post a escrever este tipo de exemplos… Mas… O que pretendo não é estabelecer comparações entre dois países que são de facto muito diferentes. Isso seria quase uma utopia. O que pretendo é apenas dar-vos a conhecer um pouco da realidade em que vivo agora, da realidade onde cada dia é uma lição de vida, onde as pessoas, começando de criancinha, lutam pelas suas vidas, pela sua sobrevivência, usando o pouco que tem. Aqui não se pensa muito no amanha, as pessoas vão vivendo o dia-a-dia, porque como muitas vezes já ouvi “Mana, eu hoje posso pensar uma coisa e amanhã a vida pode mudar-me as ideias, só Deus é que sabe…”…
Claro, que alguns me dirão “não podes pensar assim… são culturas diferentes…” . Pois. È verdade, direi eu. Mas pergunto: devia ser assim? Em pleno século XXI, deveriam haver crianças a morrer á fome? Deveriam haver populações isoladas por falta de uma simples ponte ou estrada? Deveriam existir estas diferenças tão acentuadas? Sei que falo de utopias, mas inquieta-me bastante e ao longo destes meses por aqui tenho sentido cada dia mais que vivemos numa sociedade consumista (da qual também eu faço parte e da qual não me posso excluir como é óbvio) que de solidária tem umas campanhas de vez em quando apenas…

Também aqui vemos isso. Aqui, em Timor Leste! Sim, é verdade. Basta passear um pouco pelas ruas da capital Dili. Vemos dezenas, senão centenas de carros da ONU que passam o dia a fazer passeios… Não ponho em causa o trabalho deles, apenas o uso dos materiais de que dispõem…
Aqui, eu aprendi a confiar mais e a entregar mais para Deus. Não apenas este ano. Mas toda a minha vida. Aprendi a ser mais d’Ele e para Ele.
Claro que não posso dizer-vos que não tenho saudades de algumas pessoas. Claro que não posso dizer-vos que não sinto falta de algumas coisas. No post que escrevi “ao fim de três meses” ironizei um pouco a situação e foi uma partilha mais a nível de brincadeira, mas a verdade é que não é fácil. Não é fácil viver quase sem recursos. Não é fácil “sair da nossa cultura” para integrar uma totalmente diferente… E não é fácil estar longe da família e dos amigos. Não se aprende nos livros o quanto custa a distancia dos que amamos.
Mas, em cada dia me sinto feliz. Acordo e adormeço sempre feliz, desde que estou aqui. Porque tenho a certeza de que sou uma privilegiada por ter a oportunidade de estar aqui, por ter a oportunidade de viver este ano com estas pessoas, neste país… Sou uma privilegiada que tem a oportunidade de crescer em cada dia com este povo, com esta cultura.
E louvo a Deus Pai. Pelo privilégio. Por me mostrar em cada dia que não haveria outro lugar no mundo onde eu quisesse estar agora…

E por agora fico por aqui… A noite já se faz grande e o sono aperta…

Um abraço hospitaleiro,

Catarina

5 comentários:

ha'u disse...

Que bebé tão lindo!! Filho de quem?

mana xandra

Anónimo disse...

ola linda:)
deixo apenas um beijinho grande, com muita força para a tua missão..
e bom ler as tuas palavras...realidades diferentes, coisas que por vezes, para nos sao insignificantes, para muitos nem existem...nao deveria ser assim..

saudades*
beijinho..
ilhas do pico

Marta disse...

Emocionas-me com as tuas palavras, Catarina.
Igualmente, sempre que tenho tempo disponivel e a memória me "premite" venho aqui ao teu cantinho ver as novidades. Tenho saudades tuas, e em tao pouco tempo nos conhece-mos (:
"invejo-te" (num bom sentido, claro). Por aí estares ... faz parte dos meus sonhos, um dia fazer o que hoje fazes, faz mesmo! E anseio cada vez mais e mais! Sei que não é fácil, mas quem disse que o era? É Deus que nos põe à prova. (:
E, como diz o cantigo "vais ver vais sentir, nao precisas desistir quando a vida te pára e diz "não". Pois, um não agora, um grande SIM amanha (:
O amor que aí depositas, contagia-me!
Talvez ousado, mas, posso pedir-te uma coisa? Dá assim um ABRAÇO do tamanho do mundo a uma criança por mim e diz que a amo, mesmo muito! Pois na verdade, já gosto delas, sem as conhecer! São uns belos pedacinhos de DEUS! :D
Vou rezar por ti e contigo... Pois, o longe faz-se perto, tão perto chegando bem cá ao fundo!
Obrigada Catarina, por fazeres toda essa gente feliz! (:

Beijinhos da Marta
(Campo de férias hospitaleiros, os barulhentos e que te acordaram a cantar, lembras-te? Eu sou a que fiquei mesmo no quarto ao lado do teu, eheheh)

Ps.: se me puderes dar uma morada ou algum endereço de e-mail .. ficava contente (:

ha'u disse...

etingsolhando a foto... hum... ainda não "sentas" à timorense!!! precisas de umas aulas da florbela!

Anónimo disse...

Olá meu anjo,
é tão bom ler o que escreves, em cada frase, sinto a tua alegria, a tua força e o amor que dás a cada criança, a cada adulto com quem partilhas este ano. É bom saber que neste mundo de materialismo, onde os valores estão cada vez mais perdidos, existem pessoas como tu, que se dedicam, eu diria a mais de 100% a causas como estas que abraças-te.
Um abraço forte e gosto de ti assim ________0_________ :)

Beijinhos
'Deia:)